Em homenagem ao Dia da Consciência Negra (20 de novembro), A Verdade publica uma resolução política da 3ª Internacional Comunista sobre a Questão Racial, aprovada no 4º Congresso da IC, realizado em Moscou, em 1922.
Ao contrário do que afirmam a burguesia e os adversários do marxismo-leninismo, os comunistas sempre levaram em conta a importância da questão racial dentro da luta de classes, especialmente nos países dependentes e coloniais. Marx e Engels, no Manifesto Comunista, convocaram os “proletários de todos os países”, sem distinção de raça ou nacionalidade, a unirem-se na luta contra o poder do capital. Após a Revolução de Outubro de 1917, a luta de emancipação dos povos oprimidos teve enorme impulso, bem como a luta por igualdade racial no interior dos próprios países imperialistas.
De fato, enquanto nos Estados Unidos os negros eram espancados, enforcados e incendiados nas ruas, na União Soviética era aprovada, em 1936, a primeira constituição do mundo que condenava categoricamente o racismo. Também, foram os comunistas os organizadores e mais destacados combatentes dos movimentos de libertação nacional na África, Ásia e América Latina.
Hoje, quando a burguesia intensifica a exploração sobre os trabalhadores, os mais prejudicados são, sem dúvidas, os trabalhadores negros, especialmente as mulheres negras. Para estes estão reservados os piores serviços e os salários mais baixos. Portanto, a luta pelo fim do capitalismo e pela construção de uma sociedade socialista, onde não haja a exploração entre os seres humanos, é uma luta também do povo preto. Viva Zumbi! Abaixo o racismo e a exploração capitalista! Viva o 20 de Novembro!
Resolução da Internacional Comunista sobre a Questão Racial
Durante e depois da guerra um movimento revolucionário começou a desenvolver-se entre os povos coloniais e semicoloniais, e este movimento ainda desafia a dominação do capital mundial. Portanto, se o capitalismo continuar, ele deve entrar em acordo com o problema cada vez mais difícil de como intensificar a colonização das regiões habitadas por pessoas negras.
O capitalismo francês reconhece claramente que o poder pré-guerra do imperialismo francês só pode ser mantido através da criação de um império franco-africano, defendido por uma ferrovia trans-saariana. Os magnatas financeiros americanos (que já exploram 12 milhões de negros em seu próprio país) começaram uma invasão pacífica da África. O fato de que a Grã-Bretanha, por sua vez, teme qualquer ameaça à sua posição na África é claramente mostrado pelas medidas extremas que tomou para reprimir as greves na África do Sul (isso refere-se à greve de Rand, em 1922, numa época na qual o lema dominante era “Por uma África do Sul branca”. O Partido Comunista apoiou a greve, enquanto apelava à unidade dos trabalhadores negros e brancos).
Embora a concorrência entre as potências imperialistas no Pacífico cresceu com a ameaça de uma nova guerra mundial, a rivalidade imperialista na África também desempenha um papel sinistro. Finalmente, a guerra, a revolução russa e a rebelião anti-imperialista entre os povos asiáticos e muçulmanos têm despertado a consciência de milhões de negros que durante séculos foram oprimidos e humilhados pelo capitalismo na África, e, provavelmente, ainda em maior grau na América.
A exploração dos negros nos Estados Unidos
A história dos negros norte-americanos preparou-os para desempenhar um papel importante na luta de libertação de toda a raça africana. Há 300 anos, os negros norte-americanos foram arrancados da sua terra natal africana, transportados para a América em navios negreiros e, em condições indescritivelmente cruéis, vendidos como escravos. Por 250 anos, eles foram tratados como gado humano, sob o chicote do feitor norte-americano. O seu trabalho limpou as florestas, construiu as estradas, cultivou o algodão, construiu as ferrovias nas quais repousa a riqueza da aristocracia do sul dos EUA. A recompensa para seu trabalho era o analfabetismo, a pobreza e a degradação.
Os negros não eram escravos dóceis. A sua história é cheia de revoltas, rebeliões e de uma luta clandestina pela liberdade. Mas todos os seus esforços para se libertarem foram violentamente reprimidos. Eles foram torturados, enquanto a imprensa burguesa justificava a sua escravidão.
Quando a escravidão se tornou num obstáculo que impede o desenvolvimento pleno e irrestrito dos EUA para o capitalismo, quando esta escravidão entrou em conflito com a escravidão do trabalho assalariado, ela teve que ceder. A guerra civil, que não era uma guerra para a emancipação dos negros, mas uma guerra para a preservação da hegemonia industrial do Norte, confrontou os negros com uma escolha entre o trabalho forçado no Sul e a escravidão salarial no Norte. O sangue, suor e lágrimas dos “emancipados” negros ajudaram a construir o capitalismo norte-americano e, quando o país, que agora se tornou uma potência mundial, foi inevitavelmente puxado para a Primeira Guerra Mundial, os negros norte-americanos ganharam igualdade de direitos com os brancos… para matar e para morrer pela “democracia”.
Quatrocentos mil proletários de cor foram recrutados para o exército norte-americanos e organizados em regimentos especiais. Estes soldados negros mal tinham retornado do banho de sangue da guerra antes de serem confrontados com a perseguição racial, linchamentos, assassinatos, a negação dos direitos, a discriminação e desprezo geral. Eles lutaram, mas pagaram caro pela tentativa de fazer valer os seus direitos humanos. A perseguição de negros tornou-se ainda mais difundida do que antes da guerra, e os negros mais uma vez aprenderam a “conhecer o seu lugar”. O espírito de revolta, inflamado pela violência pós-guerra e da perseguição, foi suprimido, mas os casos de crueldade desumana, como os eventos em Tulsa City, Oklahoma, ainda incendeiam os ânimos novamente. Isto, somado à industrialização do pós-guerra dos negros no Norte, coloca os negros norte-americanos, em especial os do Norte, na vanguarda da luta pela libertação dos negros.
A Internacional e o movimento negro
A Internacional Comunista está extremamente orgulhosa de ver os trabalhadores explorados negros resistindo aos ataques dos exploradores, uma vez que o inimigo da raça negra e o inimigo dos trabalhadores brancos são o mesmo: o capitalismo e o imperialismo. A luta internacional da raça negra é uma luta contra o inimigo comum.
Samora Machel, comunista moçambicano e líder da guerra de independência contra Portugal
Um movimento negro internacional com base nesta luta deve ser organizado: nos Estados Unidos, o centro da cultura negra e do protesto negro; na África, com a sua reserva de mão-de-obra humana para o desenvolvimento do capitalismo; na América do Sul e Central (Costa Rica, Guatemala, Colômbia, Nicarágua e outros países “independentes”), onde o domínio do capitalismo norte-americano é absoluto; em Porto Rico, Haiti, São Domingos e outras ilhas do Caribe, onde o tratamento brutal dos nossos irmãos negros pela ocupação norte-americano provocou um protesto em todo o mundo de negros conscientes e trabalhadores brancos revolucionários; na África do Sul e Congo, onde a industrialização crescente da população negra levou a todos os tipos de revoltas; e no leste da África, onde as incursões do capital mundial levou a população local a iniciar um ativo movimento anti-imperialista.
A Internacional Comunista deve mostrar aos negros que eles não são os únicos a sofrer a opressão capitalista e imperialista, e que os trabalhadores e camponeses da Europa, Ásia e América também são vítimas do imperialismo; que a luta negra contra o imperialismo não é a luta de um único povo, mas de todos os povos do mundo; que na Índia e na China, na Pérsia e Turquia, no Egito e Marrocos, os povos oprimidos não-brancos das colônias estão lutando heroicamente contra os seus exploradores imperialistas; que esses povos estão se levantando contra os mesmos males, ou seja, contra a opressão racial, desigualdade e exploração, e estão lutando pelos mesmos fins – emancipação política, econômica, social e pela igualdade.
A Internacional Comunista representa os trabalhadores e camponeses revolucionários de todo o mundo na sua luta contra o poder do imperialismo. Ela não é apenas uma organização dos trabalhadores escravizados brancos da Europa e da América, mas é também uma organização dos povos oprimidos não-brancos do mundo, que assim incentivam e apoiam as organizações internacionais dos negros na sua luta contra o inimigo comum.
O movimento negro e a revolução
Amílcar Cabral e Fidel Castro em Havana
A questão negra tornou-se parte integrante da revolução mundial. A Terceira Internacional já reconheceu a valiosa ajuda que os povos de cor asiáticos podem dar à revolução proletária, e ela percebe que nos países semicapitalistas a cooperação com os nossos irmãos negros oprimidos é extremamente importante para a revolução proletária e para a destruição do poder capitalista. Portanto, o IV Congresso da Internacional dá aos comunistas a responsabilidade especial de vigiar de perto a aplicação das “Teses sobre a questão colonial” à situação dos negros.
O IV Congresso considera essencial apoiar todas as formas do movimento negro que visam minar ou enfraquecer o capitalismo e o imperialismo ou impedir a sua expansão.
A Internacional Comunista lutará pela igualdade racial de negros e brancos, por salários iguais e igualdade de direitos sociais e políticos.
A Internacional Comunista vai fazer o possíveil para forçar os sindicatos a admitirem trabalhadores negros onde a admissão é legal, e vai insistir numa campanha especial para alcançar este fim. Se esta não tiver êxito, ela irá organizar os negros nos seus próprios sindicatos e então fazer uso especial da táctica da frente única para forçar os sindicatos gerais a admiti-los.
Por fim, a Internacional Comunista vai tomar imediatamente medidas para convocar uma conferência ou congresso internacional negro em Moscou.
Extraído das Resoluções do IV Congresso da Internacional Comunista, realizado em Moscou, em 1922.
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